Pai caminha 118 Km de Fortaleza a Canindé para agradecer em santuário pela cura de doença rara da filha

Wendell (ao centro), participa da primeira romaria e percorrerá 118 km a pé, de Fortaleza a Canindé — Foto: Arquivo pessoal

Amor, fé e devoção. Os três sentimentos que se misturam com os passos de fiéis que caminham 118 km em direção ao Santuário de Canindé para a Festa de São Francisco das Chagas, padroeiro do município do Sertão Central cearense. Wendell Cabral, 38, participa de sua primeira romaria e tem motivos de sobra para agradecer. Ele conta que a filha, Maria Cecília, apresentou complicações durante a gestação. Diante da situação, o assistente operacional se apegou a São Francisco.

“No período da gestação, foi identificado que minha filha tinha uma diferença muito grande no tamanho da nuca, o que é um parâmetro para outras anomalias. O médico disse que já viu gente não sobreviver. De férias, fui para Reriutaba (na Região da Ibiapaba) e na volta passei no Santuário (em Canindé) e fiz uma promessa de que, se ela nascesse bem, eu iria a pé para Canindé. Graças a Deus, deu tudo certo”, conta o devoto. Maria Cecília nasceu em 15 de junho de 2015, sem nenhuma complicação.

A romaria Dom Joaquim, com a qual o devoto segue, vai para sua 62ª edição e é uma das mais tradicionais do Estado. Na última quarta-feira (25), um grupo formado por cerca de 160 pessoas saiu do Centro de Fortaleza em direção a Canindé.

Durante os Festejos deste ano, a expectativa é que o Município receba de 700 mil a 1 milhão de visitantes. No período, romarias saídas de várias partes do Ceará reúnem na estrada desde crianças a idosos para celebrar, orar e agradecer. Em meio aos dias de festa, o trajeto vivenciado pelos fiéis ganha protagonismo.

Devoção e sacrifício

Os sentimentos de gratidão também são vivenciados por Ubiratan Martins, 46, que trabalha na organização da 10ª Caminhada com Amor e Fé, que este ano completa dez anos de evangelização na estrada. O grupo saiu na quinta-feira (26) do Bairro Canindezinho, em Fortaleza, em direção ao Município do Interior. O fiel explica que “são três noites de caminhada agradecendo a São Francisco de Canindé pelas graças alcançadas”.

Durante o período na estrada, equipes de apoio acompanham os fiéis fazendo a segurança e prestando atendimentos médicos. Além disso, um caminhão abastecido com água e alimentos dão suporte ao grupo. Para conseguir superar o cansaço e chegar ao destino, equipes de evangelização realizam momentos litúrgicos, unindo os caminhantes em adoração.

Durante a romaria a pé de Fortaleza a Canindé, equipes de apoio acompanham os fiéis fazendo a segurança e prestando atendimentos médicos — Foto: Divulgação

Para o fiel, os momentos servem para “agradecer pelas graças recebidas”. Com quase cinco décadas de vida, o devoto enxerga hoje muitos motivos para celebrar. “Com 14 anos de idade eu abandonei meu pai e minha mãe no interior e vim pra Capital em busca de melhorias. Como eu não tinha onde ficar e não conhecia ninguém, resolvi ficar nas ruas. Foram seis anos assim”, conta o fiel.

Apesar dos sofrimentos que a vida trouxe, Ubiratan diz que o período em que esteve morando nas ruas foi um caminho de conquistas e superação: “Foi a maior experiência da minha vida. Hoje, tudo que tenho devo a este momento porque foi um grande aprendizado”. O devoto fala com fervor sobre as graças recebidas, “de sobreviver sem teto, sem pai e sem mãe, vivendo nas ruas” e, agora, é uma das lideranças do Terço do Homens de sua paróquia.

O prazer de ir caminhando

Indo para sua sexta romaria, Carla Roberta, 34, que mora em Caucaia, Região Metropolitana de Fortaleza, diz que o principal motivo para continuar participando da via é a fé. “Meus agradecimentos a Deus e pela intercessão de São Francisco das Chagas pela família que tenho. Por todas as graças que Deus me deu até hoje”, pontua a devota. Carla partiu com cerca de 100 fiéis em direção ao Santuário de Canindé. Ela fala da alegria de vivenciar mais uma romaria.

“A alegria está à flor da pele em poder participar mais um ano. Já fui a Canindé de carro, de ônibus, de bicicleta e nas motoromarias, mas, o prazer de ir caminhando, é contagiante”, declara.

Festa de São Francisco

Segundo Jander Silva, que trabalha na assessoria do Santuário de Canindé, romarias vindas de toda parte do Brasil são esperadas este ano. “Maranhão e Piauí são os estados que mais mandam peregrinos. Vem gente de todo o canto”, diz. A organização da Festa pede que as romarias sejam cadastradas no "Porta Aberta", um espaço que está sendo inaugurado este ano para o acolhimento dos fiéis.

O Santuário e Paróquia de São Francisco das Chagas disponibiliza, também, dois abrigos de hospedagem - São Francisco, localizado na rua Euclides Barroso, e Centro Franciscano de Apoio ao Romeiro. A organização recomenda que os coordenadores de romarias se informem junto à equipe do local sobre a disponibilidade de vagas.

Fonte: G1

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