Este senhor fará você ter vergonha por faltar tanto à academia
Mesmo precisando de um aparelho para respirar, José Carlos Fernandes vai malhar
Imagem: Emerson Lima/Bodytech
Bárbara Stefanelli - UOL
José Carlos Fernandes chama a atenção todos os dias que vai à academia em que se exercita. Não por seus músculos ou pela quantidade de peso que puxa, mas por sua admirável força de vontade. Aos 72 anos, o professor de matemática aposentado precisa do auxílio de um concentrador de oxigênio 24 horas por dia para respirar e, mesmo assim, fica das 8h às 11h malhando. “Só não venho toda terça, por causa do rodízio do carro, mas aí compenso no final de semana.” E isso, provavelmente, já é mais do que você malhou neste mês inteiro.
Foi em 2010 que José Carlos passou a se exercitar com essa frequência. Após ter uma forte pneumonia e ficar internado por um mês, os médicos também detectaram que o enfisema pulmonar estava em estágio avançado. Quem foi responsável pela mudança no estilo de vida dele foi seu filho Gustavo Fernandes, instrutor físico de 35 anos, que, inclusive, dá aulas de ginástica na academia que José Carlos frequenta. "Queira ou não, esse é um ambiente para jovens, para gente saudável, para mostrar os músculos. Mas ele não está nem aí se alguém achar ruim que ele use o aparelho [para respirar]", diz o personal.
Meu pai é um otimista. Ele toca a vida. Falo que ele pode chegar até a lua, contanto que vá aos poucos, parando para descansar e recuperar o fôlego.Gustavo FernandesHoje, os dois estão juntos praticamente todos os dias, unidos por um estilo de vida mais saudável. Abaixo, leia o depoimento de José Carlos Fernandes:
Sou um lutador
Me exercitar todo dia é uma luta pela vida que tem me feito muito bem. O médico diz que só estou vivo hoje, porque tenho feito esse esforço de malhar, de andar, de fazer aeróbica. Fui forçado a me exercitar logo em 2009, quando eu tive uma infecção pulmonar. Aí tive o enfarto, porque o pulmão atacou o coração. Em 2010, eu comecei a malhar todos os dias. O médico que me tratou pela primeira vez insistiu que eu me exercitasse.
Eu era professor de matemática, ensinei e aprendi matemática. Essas foram, praticamente, as duas coisas que fiz na minha vida. E gosto de um grande matemático italiano chamado Vito Volterra e de sua teoria matemática da luta pela vida. Em um livro, ele fala exatamente da luta pela vida. A Teoria de Darwin [seleção natural, em que os mais fortes sobrevivem] não deixa de ser uma batalha também. Eu aprendi, desde jovem, que a vida só se mantém a partir de muita luta. Sou um lutador, lutei a vida inteira.
Arrependimento por fumar
Na minha geração, todo mundo fumava. A gente dava aula fumando, aluno acendia cigarro no meio da aula, jogava no chão e pisava em cima. Acho que a indústria do tabaco lucrava muito. Até criança fumava. Me lembro de criança que, com dez, onze anos, já fumava. Era a cultura dos americanos, dos franceses.
Fumar foi a maior tolice que fiz na vida, fumei por muitos anos. Esse foi um grande causador do problema pulmonarTenho certeza que isso [a condição dos pulmões] aconteceu por causa do cigarro. Fumei dos 18 até 2009. Foram, por baixo, uns 45 anos fumando.
"Levanto peso"
Na esteira, ao lado do filho Gustavo Fernandes
Imagem: Emerson Lima/Bodytech
Chego na academia às 8h e medem minha pressão e frequência cardíaca. Aí, conforme o resultado da medição, me liberam para fazer esteira ou musculação. Essa é a rotina de todo dia. Gosto de fazer esteira, mas, a cada dois ou três minutos, tenho que parar para recuperar o fôlego.
Eu caminho na velocidade 3.0 [três quilômetros por hora]. Desde 2015, eu tenho que ficar com o oxigênio o tempo todo, até para dormir, senão me canso muito. Em alguns dias, eu também faço ginástica, aí levanto peso, uso caneleira, me alongo.
Driblando a preguiça
Não nego que, de vez em quando, tenho preguiça. A inércia é muito forte para qualquer um, até para mim. Mas sou muito disciplinado. Eu, por exemplo, não deixo de escovar os dentes, não deixo de tomar banho. Há certas coisas na vida que a gente tem que fazer e eu faço, não reclamo.
Depois da malhação, me sinto muito mais disposto. É por isso que eu venho, porque o ganho é muito grande. Eu sentia dor nos ombros e nas costas, que diminuíram muito. Uns anos atrás, eu também era um pouco revoltado. Hoje não sou tão revoltado como já fui.
Galera da academia
Tem gente que me cumprimenta só porque sabe que eu sou pai do Gustavo. E ele, modéstia à parte, é um rapaz queridíssimo. Então, tem algumas pessoas que só me toleram por causa dele, porque, quando eu digo que sou de esquerda, trabalhista, eles não aceitam. Aqui tem um monte de 'coxinhas'. Gosto de quase todo mundo, eu só não gosto de 'coxinha', por razões políticas.
E eu acho meio ridículo esses caras das academia que são trogloditas. Acho feio. O Schwarzenegger é um cara horrível, não é? Homens e mulheres muito musculosos são muito feios. É uma beleza que não agrada.
Aqui na academia tinha uma mulher que parecia homem. Uma não, mais de uma! Eu não sou de ficar julgando muito, mas a gente bate o olho e gosta ou não. Eu prefiro uma gordinha do que uma magrela. Dessas bombadonas, eu nem chego perto.
Fonte: estilo.uol.com.br
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