‘Arma’ contra a violência, psicologia é preterida no AM

A goleada de 5 a 1 sobre o Princesa do Solimões, na final do Campeonato Amazonense de 2014, não só consagrou o Nacional campeão da competição como ficou marcada pelas cenas de violência protagonizadas pelos times após uma cobrança de falta que gerou tumulto entre os adversários. Episódios como este levantam questionamentos quanto ao comportamento no contexto esportivo e a influência de fatores psicológicos no desempenho físico, técnico e social dos desportistas. Ainda assim, no Amazonas, nenhuma das equipes profissionais de futebol conta com psicólogos no quadro de funcionários. 

“Já tive muita dor de cabeça por conta de despreparo psicológico de jogadores de futebol”, confessou o diretor de futebol do Princesa, Raphael Maddy. “Depois do que aconteceu no ano passado, passei a ver com outros olhos a importância de um psicólogo na equipe”. 

Na ocasião, o meia Fininho, do Princesa, e o atacante Leonardo, do Nacional, brigaram dentro de campo faltando quatro minutos para o encerramento da partida. A confusão levou o jogador do Leão a ser chutado diversas vezes pelo atacante Nando e pelo volante Deurick, ambos do time de Manacapuru (a 68 quilômetros a oeste de Manaus). 

Maddy adiantou que é prioridade do clube encontrar um profissional na capital que tenha disponibilidade para se locomover até o interior do Estado para conversar com os jogadores e realizar palestras semanais. “Minha meta é fazer isso acontecer antes da nossa próxima partida”, contou, se referindo ao jogo de volta da Copa Verde contra o São Raimundo-RR, no próximo sábado. “O fator financeiro pesa, mas lá na frente será possível ver o nosso ganho com esse investimento”, ressaltou. 

A Psicologia do Esporte, segundo a psicóloga do grupo de arbitragem da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Marta Aparecida Magalhães de Sousa, não se restringe exclusivamente a atletas, mas tem, também, como público-alvo, coordenadores, instrutores, treinadores e árbitros de diferentes modalidades. 

“A contratação do psicólogo do esporte é um ganho para todos os envolvidos na área. A atuação do profissional busca redirecionar e auxiliar a recuperação psicológica quanto à pressão interna e externa, focando também na instituição, nos dirigentes, na comissão técnica e na família, contribuindo para o desenvolvimento educacional e social da equipe”, explica.

Entre as principais queixas dos pacientes estão a pressão da mídia, recuperação de lesões e dificuldade em conciliar treinos, estudos e família. Sintomas que, na avaliação de Marta, podem desencadear agressões como as vistas entre os jogadores do Leão da Vila e do Tubarão.

Assim como o Princesa, o Nacional também tem avaliado a contratação de psicólogos com o intuito de evitar tumultos como o do ano passado. O presidente nacionalino, Mário Cortez, além de reforçar o discurso do vice-campeão Princesa, alertou para a importância de psicólogos nas categorias de base dos clubes. 

“Há, de fato, a necessidade de se ter pelo menos um psicólogo e um assistente social para compor a comissão técnica do clube, principalmente para os meninos da base, que são bem novos. Temos que levar em conta, é claro, os recursos para que isso aconteça, mas o Nacional tem todo interesse em contratar estes profissionais”, disse. 

Também consciente quanto à importância de psicólogos dentro dos clubes de futebol, a presidente do Penarol, Patrícia Serudo, que também é estudante de Psicologia, explicou que, por motivos orçamentários e geográficos, a contratação de um profissional para atuar em Itacoatiara (a 176 quilômetros a leste de Manaus) se tornou inviável no momento. 

“Esporte e psicologia são duas áreas que eu amo, então sempre procurei me dedicar à psicologia esportiva. Inclusive, quando fui procurada pelos diretores do Penarol para participar das eleições do clube, em 2013, estava em Fortaleza fazendo um curso com a psicóloga do São Paulo FC, Kátia Rubbo”, revelou. “Quando assumi a presidência do clube, procurei um dos meus professores e pedi orientação de como aplicar a psicologia dentro do clube. Desde então, passei a implementar algumas destas práticas com os jogadores, na medida do possível”. 

O gerente de futebol do Rio Negro, Jofre Santos, por outro lado, acredita que a figura do psicólogo em si não é essencial na estrutura de um clube de futebol para manter o equilíbrio emocional dos atletas. 

“É claro que é interesse do clube se certificar de que os atletas estejam 100% bem, mas, no Rio Negro, quem faz esse papel é o nosso preparador físico. Ele conversa com os atletas, vê o que está acontecendo e lida diretamente com qualquer problema que o jogador possa ter”, disse, destacando também o papel de liderança desempenhado pelo técnico Sérgio Duarte. “O Sérgio também ajuda os meninos e, se houver algo mais grave, o problema é repassado para a diretoria e procuramos ajudar da maneira que podemos”. 

Fonte: d24am.com

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