NÃO VÁ AO AMAZONAS !
Dizem que conselho se fosse bom se vendia, mas ao longo da vida vamos juntando bagagens que queremos compartilhar. Em função de muito que se tem falado sobre a Copa do Mundo e sobre turistas resolvi dar minha opinião. Logo, se eu puder lhe dar um conselho, diria: não vá ao Amazonas. Não conheça Manaus. Tem muita coisa errada lá.
A começar pelo povo. São pessoas que foram (e são) hostilizadas, sofreram preconceitos por terem nascido na região Norte e ainda tratam a todos bem. Estranhamente, o amazonense lhe faz sentir em casa. E olha que a casa deles é quente, mas o povo consegue ser mais caloroso. Amazonense é acolhedor sim. Não importa se acabaram de se conhecer, são tão esquisitos que não demora muito a oferecerem um churrasco (de peixe) com cerveja a você. E quando você sai da casa deles fica com a impressão de os conhecer há muito tempo.
Por falar em comida, não coma nada em Manaus. Principalmente se for peixe. Corra de pirarucu, fuja de tambaqui, vire o rosto para matrinchã, não prove jaraqui ou bodó. Você poderá estar fadado a nunca mais comer peixes da mesma forma. Um tambaqui assado simples já é um manjar à parte, quando misturado com as iguarias da terra, derrubam o mais forte caboclo imagine com os imigrantes de estômago estragado. As frutas também são atrações especiais. Se você brincava de atirar mamona quando criança, ficará surpreso em conhecer o rambutã, uma espécie de mamona vermelha que tem um gosto único. E sim, chocolate melhora a vida de todos, e um creme de cupuaçu pode melhorar um chocolate. Poderia falar por páginas aqui da gastronomia e dos temperos, mas ainda há mais coisas para se precaver.
Por prevenção, se você mora numa outra capital, cuidado com Manaus. Ela costuma não ser violenta. Sim, é possível sair à noite e voltar para casa sem ser assaltado e o pior, sem necessitar ser neurótico. Há violência é lógico, mas localizada e pontual, com um pouco de atenção você também pode passar anos incólume.
No quesito noite, Manaus é realmente uma terra de muitas tribos. Você encontrará rock (do leve ao death metal), blues, jazz, samba de raiz, música clássica, forró, brega, sertanejo universitário. A diversidade é tanta que é possível sair todos os dias da semana. Todos. Aliás, festival cultural não falta, porque além das musicas há festivais de dança e de teatro. E mesmo não sendo tão valorizadas, como em tantos outros cantos deste país, as trupes fazem muitas apresentações.
Sobre selva, fica a dica para os forasteiros: Manaus tem quase dois milhões de habitantes. A cidade é imensa. Não se veem muitos animais na rua, além dos que são vistos em outras cidades. Próximo a algumas zonas de proteção ou parques sim, mas nada muito além de uma preguiça ou pássaros (quem estuda na Federal do Amazonas costuma se deparar com preguiças atravessando a rua, isso porque a UFAM fica numa das maiores áreas de floresta preservada dentro de uma cidade). Para ver floresta e vida nativa é necessário sair um pouco da cidade e aí eu lhe digo: vale cada centavo. As cidades e passeios próximos são fora do comum. Começa pela beleza das paisagens e suntuosidade dos rios. Cachoeiras fantásticas, como na cidade de Presidente Figueiredo, e animais lindos, como os botos de Novo Airão. Há muita beleza natural nessas terras.
Já as coisas do homem da terra não merecem muita atenção. A cultura rica em lendas e mitos, rica não meu amigo MUITO rica, carrega um pouco do universo indígena com pitadas dos imigrantes. Para tudo há uma explicação mítica. E se só a beleza das histórias já encantam, quando o caboclo pega a musica e as transforma em toadas que merecem o respeito de serem ouvidas de olhos fechados. Como diria um amigo meu citando uma música de boi bumbá, há muito mais no “verde que desbota na distância que existe entre a mata e o homem” que imaginamos.
Por falar em Bumbás, há vida além de Garantido e Caprichoso. Os bois de rua de Manaus são muito populares na cidade, além de outras danças típicas como as cirandas da cidade vizinha Manacapuru. Mas a movimentação dada pelos bois de Parintins transcende o gostar de folclore e se rivaliza dos enfrentamentos não só nas arenas até nas rodas de bares e encontros amigos, onde conversas acaloradas sempre recordam momentos e festivais. Se quiser ofender um grupo de amazonenses, coloque toadas de um só boi. Sempre há um contrário para todos os contrários.
Como disse antes, não vá a Manaus. A cidade carece de infraestrutura, tem problemas na política e educação, como toda cidade brasileira hoje apresenta. Mas o Amazonas é de bravos que se doam, sem orgulho e sem falsa nobreza, lendas para sonhar, vida e riqueza nas lutas que travei. Não é apenas um hino, mas a imagem sincera de um povo que não tem pudores em ceder um pouco de si. Se contrariar meu conselho e for conferir de perto, insisto para que não venha com a cabeça aberta. Cerque-se de preconceitos e comparações com outros lugares em tudo o que vir e sentir, porque do contrário, com coração aberto amigo eu lhe garanto: você poderá se apaixonar assim como eu me apaixonei.
Ps: Créditos para o nosso querido mestre/jornalista/autor @Jimi Aislan que partiu da terrinha levando a saudade e como retribuição deixou esse texto perfeito!
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